É a segunda maior indústria cinematográfica do mundo, com números apenas superados por Bollywood. Agora, o cinema nigeriano está a dar um grande passo em termos de qualidade de produção e a concentrar-se numa geração mais jovem. Olhamos para a ascensão de Nollywood até à glória e para o papel que a Canon tem desempenhado no apoio a uma nova geração de realizadores.
Quando o filme nigeriano Meio Sol Amarelo chegou aos cinemas em 2013, ninguém poderia prever o impacto que iria ter na indústria cinematográfica local e no seu futuro.
O emocionante relato da guerra do Biafra no país vista pela perspetiva de duas irmãs e das suas vidas, que são diferentes mas cruzam-se, conta com atuações das estrelas internacionais Thandi Newton, Chiwetel Ejiofor e John Boyega.
Foi um sucesso imediato. Nenhum filme nigeriano anterior tinha feito tanto dinheiro na bilheteira ou sido tão consagrado pela crítica e isso elevou toda a indústria cinematográfica local para um palco mais amplo e mais global do que nunca.
Dez anos mais tarde, Nollywood (como ficou a ser conhecido nessa altura) é agora a segunda maior indústria cinematográfica do mundo, abaixo de Bollywood e acima de Hollywood.
Os mais de 1000 filmes lançados por ano são testemunho da incrível produtividade da indústria local. Com o crescimento dos números, também cresce a qualidade de produção, para a qual a Canon tem vindo a contribuir há muitos anos, através de workshops, programas para jovens e equipamento de produção e cinema. Mas como é que chegamos aqui?
Leke Alabi-Isama, formadora de fotografia e cinema no programa Miraisha da Canon, traça a história do cinema nigeriano desde as suas origens na era colonial até à fábrica de sonhos em que se tornou.
Película em branco e um plano astuto
"Dividi a história do cinema nigeriano em três eras", explica Leke. "A era colonial, a era do crescimento dos filmes em casa e o novo cinema nigeriano."
Tudo começou na década de 1970, quando os cinemas de todo o país começaram a exibir vídeos de atuações de grupos de teatro ambulantes gravadas ao vivo na Nigéria. "Foi a primeira vez que a Nigéria sentiu a cultura cinematográfica", acrescenta. "E coincidiu com uma década de grande prosperidade na Nigéria, na qual o negócio do cinema foi impulsionado e o rendimento disponível significava que mais casas do que nunca tinham a sua própria televisão".
Na década de 1980, as famílias ficaram apaixonadas por uma sitcom chamada "Papa Ajasco", e o spin-off em filme tornou-se o primeiro êxito do cinema nigeriano. Mas a sorte acabou depressa porque as mudanças políticas na Nigéria em 1984 causaram perturbações em toda a indústria do entretenimento, o que fez o financiamento para séries criadas no país, como Papa Ajasco, secar e abriu espaço para a chegada de sitcoms sul-americanas.
"Durante este período, a realização de filmes era quase inexistente, concentrando-se principalmente em programas de televisão e não em cinema", afirma Leke.
"Mas tudo isso mudou em 1992, quando um homem chamado Kenneth Nnebue escreveu um filme chamado Living in Bondage."
Kenneth Nnebue teve uma ideia simples, mas engenhosa: "Em vez de utilizar o processo normal de estrear um filme no cinema e, quando ele sair do cinema, distribuí-lo em formato VHS, Kenneth gravou diretamente para VHS e deu início à era do crescimento dos filmes em casa", afirma Leke.
A partir desse momento e durante a década que se seguiu, milhares de filmes começaram a ser produzidos desta forma, sendo gravados diretamente para VHS sem nunca passarem pelo cinema. Os filmes estavam a chegar às casas em poucas semanas. Não era inédito um produtor lançar dois filmes todos os meses. Os filmes centravam-se, de forma geral, em questões sociais e culturais, o que muitas vezes significava que a história era mais importante do que os valores de produção.
"Apesar de ser muito prolífica, a indústria cinematográfica nigeriana ficou claramente presa nesta fase", comenta. "Na altura, muitas pessoas adoravam-na ou odiavam-na. Esteve presa nesta fase durante quase dez anos, até à chegada do novo cinema nigeriano em 2002/2003."
Novo cinema nigeriano
Depois de anos de governo militar, a democracia voltou à Nigéria em 1999, o que permitiu que muitos refugiados de guerra regressassem a casa e trouxessem com eles as competências e o dinheiro que tinham adquirido enquanto estavam fora do país.
Quando estiveram ausentes do país, alguns trabalharam na indústria cinematográfica e aprenderam técnicas que podiam ser aplicadas a filmes criados no país. E apesar da indústria cinematográfica ainda estar muito saturada com o conteúdo que ia direto para vídeo, existiram alguns pensadores que conseguiram ver mais à frente e ousaram ser diferentes.
A Silverbird Cinemas, uma cadeia lançada em 2004, mostrou predominantemente filmes ocidentais até um homem, chamado Kunle Afolayan, voltar da escola de cinema em Nova Iorque. A sua estreia, o thriller sobrenatural Irapada mudou o paradigma na Nigéria, destacando as possibilidades dos filmes produzidos localmente.
Os prémios seguiram-se e, em pouco tempo, o cinema nigeriano chamou a atenção do mundo. "Os nigerianos estavam habituados à qualidade dos filmes de Hollywood e conseguiam ver isso na qualidade do cinema nigeriano", explica Leke.
"Por isso, não só a história era boa, como a qualidade de imagem também era agora de nível padrão. Isso causou uma mudança na mente dos produtores e realizadores nigerianos. Perceberam que muito mais tinha de ser feito para chegar ao nível padrão que Hollywood tinha."
Os nigerianos estavam habituados à qualidade dos filmes de Hollywood e conseguiam ver isso na qualidade do cinema nigeriano."
Ele diz que o ponto de viragem foi o lançamento de Meio Sol Amarelo em 2013. "Este foi o filme que realmente fascinou as mentes do povo nigeriano", acrescenta. "E fez com que os realizadores locais percebessem que não havia nada que não pudesse ser feito na Nigéria, desde que tivessem financiamento."
Criar novas oportunidades para realizadores nigerianos jovens e ambiciosos
As coisas só têm melhorado desde o filme Meio Sol Amarelo, especialmente para as novas gerações.
"Os realizadores com menos de trinta anos começaram a procurar financiamento, o elenco certo e locais interessantes por todo o país para filmar os seus próprios filmes", afirma Leke, referindo The Wedding Party de 2015 como exemplo.
"O filme tornou-se um enorme sucesso e foi o filme nigeriano com os melhores resultados de bilheteira de sempre nos cinemas", acrescenta. "E o que é ótimo é que a equipa de filmagem era composta por membros que, na maioria, tinham menos de 35 anos de idade."
Alguns tinham estudado no estrangeiro e decidiram que se queriam "separar da velha guarda" e ir numa nova direção. Outras pessoas viram as enormes oportunidades, possibilitadas pelas DSLR e pelas câmaras de vídeo, para dar vida às suas ideias de filmes. Todos foram muitos ajudados pela transição para o digital e pelo nascimento de plataformas de "Video on Demand" (VoD), como a Netflix, ou serviços regionais, como Nollyland ou Iroko TV.
"A Nigéria tem menos de 100 cinemas, espalhados pelo seu território", afirma. "Sendo um país de 190 milhões de pessoas, é possível perceber que a audiência está imediatamente limitada." E apesar de inicialmente as plataformas como a Netflix terem deixado os realizadores receosos (muitos deles já habituados ao risco de pirataria), a sua explosão ao longo dos últimos anos tornou o VoD num colosso da indústria cinematográfica por direito próprio.
Desde o seu lançamento em África em 2016, o serviço investiu significativamente, incluindo na compra da sua primeira produção original em Nollywood, Lionheart, e planeia entrar na produção das suas próprias séries e filmes para o mercado.
O que se segue para Nollywood?
A contribuição de Nollywood para a economia local é extremamente significativa. O sector gera atualmente 600 milhões de dólares por ano e emprega mais de um milhão de pessoas, estando em segundo lugar, abaixo da agricultura, na lista dos maiores empregadores da Nigéria.
Com formação, a qualidade dos filmes que fazemos em Nollywood podia rivalizar com qualquer indústria do mundo."
O próximo grande desafio será manter o fluxo de talento constante, numa indústria em crescimento que requer pessoas qualificadas. Leke viu este desafio em primeira mão. "A maioria das pessoas na indústria são autodidatas", afirma. "Aprenderam com a prática ou na Internet. A educação é muito importante."
Atualmente, Nollywood tem apenas dois institutos oficiais do governo que oferecem o curso cinematografia/realização de filmes, o Instituto Nacional de Cinema em Jos, na Nigéria e o NAFTI em Accra, no Gana.
Nos últimos anos, surgiram várias escolas de cinema privadas em todo o país, um testemunho da procura que existe no país. "É aqui que entra o programa Miraisha", afirma. "Trabalhamos em parceria com o Instituto de Escrita, Cinema e Televisão e com o NAFTI para disponibilizar workshops sobre a realização de filmes e podemos ver o quão entusiasmados os alunos estão para obterem conhecimentos e educação."
A antiga estudante do Miraisha, Judith Audu, é um excelente exemplo. Acabada de terminar o seu mais recente filme L.I.F.E. ,que produziu, estabeleceu-se no palco global do cinema escrevendo, produzindo e atuando em filmes premiados, como Just Not Married e Not Right. E utilizando-os como uma plataforma para falar sobre questões como a violência sexual e baseada no género.
A sua história é uma das muitas que Leke espera que sirvam com excelentes exemplos para as futuras gerações de realizadores de Nollywood. "Com formação, a qualidade dos filmes que fazemos em Nollywood podia rivalizar com qualquer indústria do mundo", afirma.
Para os jovens realizadores de Nollywood, apoiar a sua visão com as competências técnicas necessárias para a levar para o ecrã, significa que podem realmente sonhar alto.
Saiba mais sobre o nosso Programa Miraisha e sobre como estamos a apoiar as gerações futuras.
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